sábado, 2 de julho de 2011

E POR FALAR EM SAUDADE

Hoje vou falar de saudade. Mas de uma saudade diferente. A saudade de quem não veremos mais. A saudade de uma pessoa muito querida que se foi, de repente e para sempre.

Há pessoas que, em nosso imaginário, nunca deveriam morrer. São pessoas fortes, saudáveis, que enfrentam a vida de cabeça erguida, com coragem e determinação.

Não fumam, não bebem, fazem exercício, consultam regularmente o médico e têm uma alimentação saudável.

São pessoas bem informadas, prestativas, solidárias, que estão sempre ao nosso lado, quebrando galhos, dando dicas, rindo com a gente ou nos consolando.

Sabe aquele porto seguro onde a gente atraca no meio da tempestade?

Ou aquela pessoa certa pra tirar as nossas dúvidas naquele momento sobre o que fazer em relação a um presente, uma viagem ou um remédio?

Incansável quando se trata de socorrer a família ou os amigos, sempre atenta e pronta a dar puxões de orelha, era também presença constante nas reuniões familiares, colando, unindo a família.

Pessoas assim não deveriam morrer. Não antes dos 100 anos. Quando morrem ainda em plena atividade, ainda com muito a fazer, o sentimento que temos é que a vida nos traiu.

Isso mesmo, a vida nos enganou e levou quem não devia ou, pelo menos, quem ninguém esperava.

Mas a vida é assim mesmo, estranha e inesperada. Em um momento, apenas um momento e tudo muda.

Em sábado estávamos todos juntos, almoçando, vendo fotos, conversando e rindo em sua casa. No outro, no silêncio da UTI, uma visita dolorosa, em meio a tubos e fios, respiração difícil e sono profundo. Ainda assim, um fiozinho de esperança acalentava o meu coração. Mas era o último encontro, a despedida silenciosa e cruel.

E eu que me considerava uma pessoa forte, vi desabar a esperança, ficando em seu lugar uma dor, tão grande, tão profunda, que fazia doer todo o corpo. Se existem tantos analgésicos para tantas dores, por que não inventaram ainda um que amenize as dores da alma?

O único remédio para este tipo de dor é o tempo. Não tenho dúvida.

Houve em momentos em que tive vontade de gritar, gritar bem alto para ver se amenizava o sofrimento.

Ainda hoje, duas semanas depois, fico imaginando que estou vivendo um pesadelo e que logo vou acordar aliviada, por constatar que nada disso é real.

Mas os dias passam e não acordo. Penso que, desta vez, o pesadelo é de verdade.

A saudade ainda é muito grande. Mas a dor está se acomodando.

A vida tem seu ciclo, tem um curso a seguir. Mas ás vezes, ela encerra o ciclo antes da hora. Não sei por que. Talvez um erro no TAC TAC do relógio da vida.

Há pessoas que não deveriam morrer nunca ou, pelo menos, viver até os 100 anos. Sônia era uma dessas pessoas. Com certeza a vida se enganou ao levá-la agora. E acho que quando descobrir isso, vai se arrepender.

Pena que ela não possa voltar atrás e reparar o erro quando descobrir que, desta vez, realmente, nos traiu.