Nossa menina das terras geladas teve, recentemente mais uma de suas aventuras fora de série. Estavam ela, o namorado e a irmã do namorado voltando de uma festa na casa da outra irmã e precisavam pegar um trem e depois um ônibus para voltaram para a casa dos pais de seu namorado, em uma ilha mais ou menos próxima.
Quando chegaram à estação, ficaram aguardando o último trem
da noite, cansados e com muito sono. Enquanto esperavam, uma senhora foi falar
com ela. Perguntou para onde eles estavam indo. Explicou que precisava de uma
carona da estação final para a ilha, que, por coincidência, era a mesma que eles estavam indo.
O namorado então explicou que tem um ônibus da estação até a ilha. O problema da senhora era o tamanho enorme de sua mala. Para ela seria uma grande dificuldade carregá-la.
O namorado, que é uma pessoa extremamente gentil e educada,
carregou a mala da senhora até o trem e depois do trem até o ônibus. A nossa
menina e a cunhada iam andando mais devagar, acompanhando os passos da senhora,
ajudando-a, inclusive, a subir e a descer do ônibus.
Daí a menina ficou pensando como a senhora iria fazer para
ir para casa carregando aquela mala, porque o ônibus só passa pela estrada
principal. E, parecendo ler os seus pensamentos, perguntou ao namorado para
onde eles iam e propôs que eles descessem antes, com ela, para ajudar com a
mala. O carro dela estava estacionado lá e, daí, ela os deixaria em casa.
Um pouco surpresos com a inusitada solicitação, a menina
pensou: bem, estamos em um país do primeiro mundo, em uma pacífica cidade do interior, ela mora
na mesma ilha dos pais do namorado... enfim, as chances daquela simpática senhora
querer matar os três seriam mínimas. E aí toparam.
Quando chegam ao carro e o namorado coloca a mala nele ela
entrega a chaves pra ele ir dirigindo. Só que ele não tem carteira. E a
carteira da menina estava vencida.
Chovia bastante e então todos entraram no carro com a senhora ao
volante.
Quando ela deu ré para tirar o carro da vaga foi logo
subindo a calçada. Puxa aqui, desce ali e ela conseguiu tirar o carro do
estacionamento. E então, pé na tábua.
Que pé pesado que a senhora tem! Sem falar no modo que ela dirigia, andando,
inclusive, na contramão, pegando a pista errada, em alguns momentos.
Os três iam tremendo no carro, morrendo de medo da forma
como a senhora dirigia sem se importar de invadir a outra pista. Isso sem falar
na luz alta todo o tempo, mesmo quando, ocasionalmente, passava outro carro. A
loucura era tanta que ela dirigia a 80 km, mas a sensação era que estavam pelo
menos a uns 200km. Imaginem uma senhora
idosa dirigindo à noite e com chuva, o que tornou a noite ainda mais escura.
Isso sem falar no perigo de atropelar um veado, abundantes
na região e que costumam atravessar pela pista. E, enquanto dirigia loucamente,
a senhora ainda conseguiu contar toda a história de sua vida.
Foram os 15 minutos mais longos que os três já passaram.
Finalmente, a uma da manhã, chegaram em casa. A senhora ainda ficou batendo
papo no portão por mais uns dez minutos.
E eles agoniados pra entrar em casa. O namorado e a cunhada
estavam brancos, com as pernas bambas, praticamente em estão de choque, pois, normalmente, a
população daquele país é muito assustada com trânsito. Já a menina, acostumada
com o trânsito do Recife e com alguns motoristas por aqui, só fazia rir.
Foi uma aventura e tanto mas, no final, tudo acabou bem.
Agora, cá entre nós, eu acho que o namorado e a cunhada vão pensar umas três
vezes quando alguma senhora oferecer carona outra vez.
Ilustração: Rossana Menezes