domingo, 21 de junho de 2020

O TEMPO PASSOU NA JANELA E A GENTE NEM VIU.. DEZ ANOS DEPOIS



Há dez anos escrevi esse texto para comemorar os 30 anos de quando me tornei mãe com a chegada de Rossana.

Era um dia chuvoso de junho, como o eram antigamente quase todos. O São João se aproximava e uma pessoinha muito esperada teimava em não querer chegar. O prazo era até o dia 23. Se não resolvesse vir por livre vontade, viria pela livre pressão.

E, ao amanhecer do dia 20, a pessoinha que ainda não sabíamos quem seria exatamente, resolveu que estava na hora de chegar. Ultrassonografia ainda não era muito usada. Naquela época, início dos anos 1980, existia uma corrente que dizia que fazia mal ao bebê e que só deveria ser feita em último caso. Vejam vocês! Então ainda não sabíamos quem estava para chegar. Embora, secretamente, eu torcesse por uma menininha. E foi naquela manhã que a pessoinha começou se mexer e a dar sinais de que estava chegando.

Foi um dia bastante agitado, carregado de ansiedade. O O meu pai estava viajando , Sérgio quase indo para caruaru. Não era pro forró não. Era para trabalhar mesmo.
Conseguimos falar com ele, de passagem em uma agência de publicidade, encostando um telefone no outro. Naquela época não havia celular. Tempos pós-jurássicos.

Mala pronta, tudo organizado, vamos para a maternidade João XX 23, novinha em folha, quartos espaçosos, perto de casa. Mas, situada em rua que, à época,  não era calçada.

Imaginem a rua Estado de Israel, na Ilha do Leite, hoje cheia de prédios, ser, naquela época, sem calçamento, toda esburacada. E o que é que não poderia acontecer e aconteceu? O carro atolou. Não preciso dizer a aflição da minha mãe e da minha irmã. Beirando o curto-circuito. E eu, prestes a entrar em uma sala de parto pela primeira vez, apenas ria e falava que, no máximo, eu ia por os pés na lama. Era só lavar quando chegasse no quarto.

O pai, aflito, conseguiu uns bons e solidários rapazes, que estavam em um botequinho ali perto e o carro foi empurrado para fora do atoleiro.

Mas, nem diante de tal aventura, a pessoinha se apressou em sair. Dava umas esticadas, umas viradas aqui e ali e nada.

Depois de soro de indução e 24 horas desde que o primeiro sinal apareceu, a médica, Drª Inês, um doce de pessoa, resolveu partir para a cesariana.

Na maternidade, os amigos e parentes se acotovelavam e faziam apostas para ver a que horas nasceria, qual o sexo e coisas do tipo. Era uma animação só do lado de fora do quarto. E eu lá dentro, mordendo o travesseiro a cada contração. Mas feliz, por ter meu povo por perto.

E, finalmente, à uma e vinte e cinco da manhã ela chegou, gloriosa, reclamando seu lugar no mundo. Vermelha como um tomate (talvez por isso goste tanto deles), de farta cabeleira preta e espetada. Quando a olhei pela primeira vez, perguntei se não teriam trocado o meu bebê. Não, não tinham trocado. Mas convenhamos: tendo pai e mãe de pele, olhos e cabelos claros não era lá muito natural a filha ser morena não é mesmo?

" E você chegou tão linda, eu não cantei em vão, bem vinda no meu coração".
 Era como um presente de Deus, segurar aquela pessoinha nos braços.

40 anos se passaram. Mas realmente, mesmo sendo lugar comum, ouso dizer que parece que foi ontem. Parece que ainda ontem eu a embalava em meus braços ao som de valsinha, João e Maria, Acalanto e Minha História. Embalava a todas assim. Será que é por isso que elas gostam tanto de Chico?

Fecho os olhos e lembro de nossa casa em Natal, da plantação de tomates no pequeno quintal, dos banhos de mangueira enquanto aguávamos o também pequeno jardim e os balanços à noitinha na rede do terraço, enquanto esperávamos papai chegar do trabalho.

E desde aquela madrugada do amanhecer do dia 21 de junho de 1980, nunca passamos esse dia separada. Sempre tinha o "tradicional" café na cama, as faixas na parede, os cartões e os presentes, sempre surpresa. Como sempre teve para todas três.

Hoje, não vou poder levar o seu café na cama, nem colar faixas na parede. Seu presente, compramos pela internet e você vai receber em sua casa... so far far away.
Hoje, como nos últimos dez anos, a minha menininha está longe, muito longe. Realizando o seu sonho. Construindo o seu futuro. Traçando seu próprio caminho no mundo.
Sonhamos estar hoje aí com você. Chegamos a fazer planos. Mas veio a pandemia e jogou tudo para o alto.

"As minhas meninas pra onde é que elas vão... se já saem sozinhas as notas da minha canção. Vão as minhas meninas levando destinos Tão iluminados de sim,  passam por mim e embaraçam as linhas da minha mão ... as minhas meninas do meu coração..."

Acho que, depois de 30 anos, o cordão umbilical foi definitivamente cortado. Hoje o cordão não passa de uma doce e distante lembrança. O mundo é o seu limite. Como dizem as músicas de Geraldo Vandré: "É só saber querer pra poder chegar" e "quem sabe faz a hora não espera acontecer".

Você soube e sabe fazer a sua hora e, sobretudo, sabe fazer acontecer os seus sonhos. Foi isso que sempre lhe ensinamos. Porque é nisso que acreditamos.
Ver a mulher maravilhosa que você se tornou me enche de alegria e orgulho. Um orgulho recheado de muita saudade.

Hoje é o seu dia. Aproveite-o de forma plena. Curta cada instante. De hoje e de sempre.

Ficamos aqui, pensando em você, comemorando em pensamento com você: idade nova, vida nova, felicidade nova.

Que a sua vida seja sempre plena de emoção, carinho, solidariedade, fraternidade e muito muito amor.

Que você nunca deixe de sonhar e que, a cada sonho realizado, novos sonhos surjam para você correr a trás. Sonhe sempre, sonhe muito, corra atrás.

Obrigada por ter chegado para tornar a minha vida mais feliz.

Te amo muito. Sinto muito a sua falta. A saudade sempre piora em dia de aniversário e hoje está doendo muito em mim....


FELIZ IDADE RÓ!





Com todo o carinho e amor.

Ad don't forget:

Tomorrou an after, you tell me what am i to do,
a stand here, believing, That in the dark there is a clue
I hear your hopes, I feel your dreams

 






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